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Palavras mordidas (2022 - 2024)

Conversa com formigas saúvas, lápis de cor sobre papel

28,4 x 21 cm (cada) - são 50 desenhos até o momento

Fotografia: Rubim Oliveira


Exposições:

Abrir Horizontes | Curadoria: Divino Sobral, Paulo Duarte e Dalton Paula | Centro Cultural Octo Marques | 2023

Não há terra sem saúvas | Curadoria: Cacá Fonseca | Galeria da FAV | 2023

Publicações:

Revista Piseagrama | Edição Vegetalidades / out. 2023


Sobre o trabalho: São 40 desenhos feitos em lápis de cor sobre papel. Os desenhos foram feitos a partir da coleta de folhas cortadas pelas formigas saúvas e deixadas na calçada próxima da minha casa onde existe um sauveiro. Todas as folhas são reproduzidas em tamanho real, coletadas em dias e níveis de degradação diferentes. Elas cortam as folhas em semi-circulos, carregam o fragmento até o interior do ninho e o deixa na panela da colônia de fungos, cultivados pelas mesmas. Algumas folhas elas cortam inteiras e levam para o ninho, outras folhas elas cortam apenas uma parte e deixam o resto ao redor do óculo do ninho. Na rua da minha casa encontro as folhas picadas todos os dias, penso que cada desenho feito pelas formigas nas folhas apontam para uma linguagem há milhares de anos desenvolvida por elas, desenho então nossas conversas.


"(...) é uma perturbação. As formigas começam a tomar um tipo de proporção a ponto de eu começar a vê-las na cidade. Há também um desejo de conversar com elas. Do mesmo jeito que a imagem perturba, na medida do afeto, de ficar com isso na cabeça e falar dela repetidamente, parece que as formigas, aqui perto de casa, elas me mobilizam para fazer alguma coisa com elas, e que pra mim, tem o tom de ficção. Por isso elas falam comigo, pois eu tomo como uma ficção da vida ali. Todos os dias tem folhas lá, todos os dias elas conversam, todos os dias eu passo e olho pro chão, olho pra árvore, e na época que eu estava fazendo (os desenhos) parecia que eu tinha que fazer muitas. Então eu tinha que ficar indo lá pegar essas folhas, desenhar, montar um conjunto. O momento em que eu paro de fazer, “cansei, vou parar”, é na época que escrevia algumas coisas sobre essa sensação perturbadora das conversas, eu também não podia parar, pois elas continuavam deixando folhas. Mas aí eu paro de desenhar, apesar de hora ou outra eu achar que eu devia continuar. Então é um tipo de afetação que está muito implicado num cotidiano. Eu tô vivendo a vida e as formigas também. E aí tem um momento que a gente encontra. Eu parei de desenhar mas elas continuam lá falando..." / Transcrição inventada de uma escuta e de uma fala minha sobre esse trabalho.
















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