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Está melhor que antes? (2019)


Instalação: fotografias impressas sobre papel fotográfico, aparelho de mp3 e fone de ouvido.

240 x 85 cm (dimensão instalação)

5’ (áudio em loop)


A obra consiste em uma instalação com fotografias de frames de vídeos dispostas horizontalmente formando uma linha cronológica da reforma da Praça Professor Felicíssimo do Espírito Santo, onde na fotografia da inauguração crio um cruzamento vertical com outras quatro imagens retiradas do Google Street View todas da praça porém de anos diferentes (2011, 2015 e 2017). Abaixo dessas imagens encontra-se um fone de ouvido onde é possível escutar a narração do texto abaixo.


“No início de 2019, aluguei com um amigo uma sala em um edifício que circunda a praça que aparece nas imagens, localizada no setor central da cidade de Goiânia. Acompanho da janela os trabalhadores, os caminhões de terra, os buracos, o artista das estátuas e o início do desenho da praça se formando. Acompanho também o fracasso de sua inauguração que foi acometida por um temporal, que fez os músicos, o prefeito e o público se abrigarem nas marquises dos edifícios ao redor. Após a inauguração registro o uso da praça, as pessoas que sentam em seus bancos, tiram um selfie com as estátuas, passam apressados e olham com curiosidade para elas. Ao rever as imagens, percebo que não registrei a praça como era antes da reforma. Utilizo o Google street view para tentar encontrar uma vista anterior. A primeira imagem disponibilizada é de 2011, sobre a praça, duas contenções metálicas estão nas ruas laterais de maior extensão. Na lateral de menor extensão, uma abertura e uma placa: “Atenção área reservada para polícia militar sujeito a guincho.” No canto inferior esquerdo da imagem, um carro da Polícia estacionado em posição perpendicular à calçada cercado por cones alaranjados. Nesta mesma calçada onde encontra-se o carro da polícia, é possível ver a lateral do volume de rampa do Edifício Parthenon Center, um emblemático edifício multifuncional do centro de Goiânia, Uma placa de “aluga” encontra-se fixada ao edifício no lado superior e direito da imagem, do lado dele um estacionamento rotativo. 2015 , a praça não tem mais as contenções metálicas e nem a placa sobre o uso restrito dela pela PM. Há mais carros, o edifício que estava com placa de “aluga” agora é a loja Enxovais Paulista, uma rede de varejo popular de Goiânia. O estacionamento rotativo continua lá e o carro da Polícia não se encontra mais na imagem. 2017 é o ano da última imagem que o street view disponibiliza. Os carros continuam estacionados sobre a praça. Lá, também continua a loja Enxovais Paulista e o estacionamento rotativo. No canto inferior esquerdo da imagem, na rua, há um homem, ele está parado, de camiseta preta, calça comprida e chinelo, com os braços cruzados ele olha para o rumo dos carros que adentram a rua que circunda a praça. Avanço em sua direção e consigo vê-lo mais de perto. Na mesma posição, ele encara a câmera do Street View. O reconheço. Alguns meses antes do início da reforma, diariamente ao chegar na praça encontrava Moisés. Ele trabalhava como vigia de carros. Em chegadas e saídas do ateliê, conversavamos sobre as coisas que aconteceram enquanto ele estava ali, o assalto ao banco vizinho, o acidente com o rapaz que foi arrumar o carro, o homem que foi multado e o culpou por não ter avisado que ali era proibido estacionar. Também dizia sobre a época que ele colhia maçã no sul, sobre quando ele percorreu uma longa distância de bicicleta e sobre o suporte que ele recebia do governo com o bolsa família. Quando retomo as imagens que havia feito da praça, além da imagem de como ela era antes, também não encontro nenhuma que o Moisés aparece. Ao encontrá-lo nas imagens de 2017 do street view, tento então trazê-lo para o regime de imagens da obra. Moisés, é uma das pessoas que habitam a cidade pelas frestas e que com a reforma da praça ficou desempregado.

A praça está melhor do que antes?”.













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